A pobreza menstrual é um assunto debatido no mundo todo, o problema é considerado uma questão de saúde pública já que está relacionado à desigualdade social. Ele acontece quando as mulheres não têm condições para comprar produtos adequados e garantir assim a higiene no período menstrual, essa dificuldade de acesso pode acabar causando danos na saúde física e mental.
Em Parnaíba o projeto social Pobreza Menstrual PHB busca ajudar meninas a adquirir absorventes e manter a qualidade de vida. Mais de 100 meninas já foram cadastradas e são beneficiadas com a ação. “A gente fez numa pesquisa de campo, e muitas usavam jornal enrolado na calcinha pra conter o fluxo menstrual. Então, isso é assustador pra gente, em pleno século XXI que as meninas estejam utilizando esse método. Outras usavam pano com papel higiênico”.
É importante falar sobre o assunto que ainda é considerado tabu. “É importante falar sobre menstruação porque é um processo natural de toda mulher, todo mês todas as mulheres passam por isso, é uma explosão de sentimentos que ela tem. Imagine você em uma situação dessa: mulher, tem poucos recursos financeiros, é vulnerável e está passando por uma situação em que não pode comprar um absorvente. Isso é muito agravante e está acontecendo em Paranaíba”.
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Pobreza Menstrual
A pobreza menstrual é um problema de ordem socioeconômica, infraestrutural e de saúde pública que corresponde à falta de acesso aos itens adequados de higiene menstrual, bem como à estrutura básica necessária para que se tenha todos os cuidados requeridos durante esse período. Além disso, a pobreza menstrual abrange a falta de informação a respeito da saúde menstrual e o conhecimento deficitário sobre o ciclo de menstruação a nível pessoal, o que pode acarretar no cuidado inapropriado e gerar problemas de saúde graves.
Levando esses fatores em consideração, desde o ano de 2014 a Organização das Nações Unidas (ONU) trata a pobreza menstrual como uma questão tanto de saúde pública quanto de direitos humanos.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, ou Unicef (sigla em inglês), no relatório intitulado “A Pobreza Menstrual no Brasil: Desigualdade e Violação de Direitos”, que foi lançado no ano de 2021, define a pobreza menstrual como um “fenômeno complexo, multidisciplinar e transdimensional”, uma vez que envolve todas as esferas que mencionamos: social, econômica, infraestrutural e educacional. Não se trata, portanto, de uma questão unicamente econômica, no que se pode acreditar à primeira vista.
A pobreza menstrual atinge pessoas em condição de pobreza econômica, que não dispõem de recursos suficientes para a aquisição de produtos de higiene menstrual e/ou pessoas em situação de vulnerabilidade e risco, como é o caso das moradoras de rua e das mulheres privadas de liberdade.
De acordo com o recente relatório do Unicef, essa condição atinge de forma mais contundente as adolescentes (a partir dos 12 anos, principalmente) que já estão na fase menstrual quando comparado às mulheres adultas, o que se deve principalmente à ocorrência de ciclos ainda irregulares aliada à falta dos recursos para o autocuidado.
Diversas causas estão associadas à condição de pobreza menstrual. Uma das principais delas é a desigualdade social traduzida na pobreza econômica, que diz respeito à escassez de recursos financeiros suficientes para aquisição de itens de higiene menstrual, como absorventes descartáveis ou reutilizáveis, coletores e calcinhas absorventes.
Para as pessoas de baixa renda, a aquisição mensal desses produtos pode ter um impacto significativo no orçamento familiar, o que faz com que muitas mulheres busquem alternativas menos onerosas e de mais fácil acesso. Atualmente, calcula-se que uma pessoa gaste uma média de R$ 12 ao mês com absorventes descartáveis, considerando o valor de R$ 0,60 por unidade, o que leva a um custo anual de R$ 144 e quase R$ 6 mil durante toda a idade fértil da mulher. Sabe-se que hoje, no Brasil, ao menos 13% da população vive com menos de R$ 246 por mês, o que configura uma situação de pobreza extrema.
Pobreza menstrual e evasão escolar
A pobreza menstrual é uma das causas da evasão escolar, que é a abstenção durante as aulas ou o abandono da escola. A evasão escolar associada à pobreza menstrual acontece por duas razões principais: a primeira delas diz respeito à ausência de instalações nas escolas para que as meninas possam fazer a sua higiene de forma segura e completa. Isso decorre da falta de banheiros ou ainda da existência somente de banheiros compartilhados, da falta de sabonete, absorventes, papel higiênico, água e outras questões de ordem estrutural.
A segunda razão está associada à estigmatização da menstruação, que faz com que haja desconforto por parte da pessoa, discriminação e uma série de situações que podem causar constrangimento advindas de outrens. Na impossibilidade de adquirir os itens básicos de higiene menstrual, muitas jovens preferem deixar de frequentar a escola, o que pode levar à ausência de até 45 dias ao final do ano letivo.
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