Prometida com pompa e circunstância para o dia 14 de agosto de 2024, data em que Parnaíba celebra seus 180 anos, a inauguração da nova ponte sobre o Rio Igaraçu, que leva ao mesmo destino da já existente Ponte Simplício Dias, fracassou. O atraso na entrega da obra, marcada por promessas não cumpridas, expõe não apenas a ineficiência da gestão, mas também uma desconexão preocupante entre as necessidades reais da população e as prioridades do poder público.
A ponte, que seria mais uma via de acesso à Praia da Pedra do Sal, é vista por muitos como uma obra desnecessária. Em um cenário onde os recursos poderiam ser direcionados para áreas cruciais como saúde, educação e infraestrutura básica, a escolha de investir em uma construção redundante levanta questões sobre a verdadeira motivação por trás do projeto. Salários de servidores públicos estão atrasados, postos de saúde enfrentam a escassez de medicamentos, e alunos das escolas municipais lidam com a falta de merenda. Enquanto isso, milhões foram destinados a uma obra que, na prática, pouco ou nada acrescenta ao cotidiano dos parnaibanos.
A cidade, que recentemente passou por um processo de embelezamento nas vias mais turísticas, esconde uma realidade bem diferente nos bairros periféricos, onde reside a maior parte da força de trabalho de Parnaíba. Essas áreas continuam negligenciadas, abandonadas, longe dos olhos dos visitantes e, aparentemente, das preocupações do poder público.
Indignados com a situação, moradores da região organizaram um protesto inusitado no dia da prometida inauguração. Eles levaram bolos, refrigerantes e aguardaram a presença do prefeito, da deputada Gracinha Moraes Souza e de toda sua comitiva, que deveriam estar lá para cortar a fita e celebrar a conclusão da obra. Contudo, a comitiva não apareceu, e os moradores ficaram apenas observando a estrutura da ponte, ainda incompleta, sem nenhuma autoridade presente para responder às suas perguntas ou ouvir suas críticas.
O gesto foi uma forma simbólica de expressar o descontentamento com a falta de compromisso da gestão pública e com o desperdício de recursos em uma obra que poucos acreditam ser realmente necessária.
Em meio a essa situação, é impossível não perceber o uso político das obras públicas e das celebrações. A inauguração da ponte estava programada para coincidir com o aniversário da cidade, um claro exemplo de como eventos de interesse popular são utilizados como palanques eleitorais. A realidade, no entanto, é que essas festas milionárias não trazem melhorias substanciais para a vida da população, especialmente daqueles que mais precisam.
A crítica popular não é silenciosa. Recentemente, durante um programa de rádio na Liderança FM, uma ouvinte questionou: “O prefeito da São Sebastião é o mesmo daqui do Parque José Estevão?” — uma referência irônica à disparidade de investimentos entre bairros de classes sociais diferentes. A nova "praça do amor" anunciada para um bairro de classe média alta é mais uma peça nessa desconexa política de aparências, onde praças e obras secundárias recebem mais atenção do que questões básicas como saneamento e segurança.
Para os que defendem a atual gestão, a lealdade é compreensível. Afinal, muitos têm seus empregos e sustento ligados à máquina pública. No entanto, a defesa incondicional sem uma análise crítica da realidade serve apenas para perpetuar um ciclo de ineficiência e desperdício. Aplaudir o óbvio e ignorar as carências reais da população é, em última análise, uma cumplicidade silenciosa com a má gestão dos recursos públicos.
Depois de quase uma década no poder, a gestão atual teve mais do que tempo suficiente para implementar mudanças significativas e duradouras em Parnaíba. No entanto, o que se vê são apenas "maquiagens" urbanas e obras que servem mais ao espetáculo do que à necessidade. A nova ponte sobre o Rio Igaraçu, símbolo maior desse descompasso entre promessas e realizações, é uma lembrança amarga de que, para alguns, o interesse público é apenas um detalhe secundário em meio a uma agenda de interesses pessoais e eleitorais.
E, como diria Mão Santa, numa crítica que ecoa por gerações: "Quem mente, rouba!"
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